Cultivo de uvas
Cultivo de uvas teoria e pratica
A videira é uma planta pertencente à família Vitaceae, cujas principais cultivares comerciais estão no gênero Vitis. Acompanha o homem desde os primórdios das civilizações, tendo sido os fósseis mais antigos encontrados na atual Groenlândia e regiões da mesma latitude norte.
O imigrante italiano, afeiçoado à viticultura por tradição e por vocação, obrigatoriamente viria a cultivar a videira em sua terra, como já o haviam feito os imigrantes que se estabeleceram em outras regiões da América e da Ásia. O colono italiano, recém chegado em 1875, ainda não tinha as mudas de videiras para iniciar o cultivo nas terras que foi desbravando, em substituição às florestas que foram derrubadas. Foi somente ao descer a serra para São Sebastião do Caí e Montenegro para levar seus produtos e buscar suprimentos que tomou contato com as videiras (variedade Isabel) que os agricultores alemães cultivavam há algum tempo para seu próprio consumo.
O uso de reguladores de crescimento em viticultura já vem sendo utilizado ao longo de muitos anos, associados ou não a outras práticas culturais. Essas substâncias, quando aplicadas exogenamente podem atuar de maneira diferenciada sobre os órgãos da videira e os seus efeitos variam com os seguintes fatores: concentração, modo de aplicação, variedades, estádio do ciclo vegetativo e condições ambientais. Dentre eles, merecem destaque, nas condições tropicais semi-áridas: cianamida hidrogenada, ácido giberélico e ethephon.
1. Cianamida Hidrogenada
A cianamida hidrogenada é utilizada para quebrar a dormência e induzir uma brotação uniforme das gemas. Em regiões tropicais, as temperaturas elevadas ao longo do ano não atendem às necessidades de frio requeridas pela espécie, conduzindo as plantas de videira a um crescimento vegetativo contínuo. As plantas não apresentam fase de repouso hibernal ou dormência, prevalecendo, por ocasião da poda, a dominância apical com a brotação das gemas da extremidade dos ramos, enquanto as demais gemas apresentam brotação fraca e desuniforme. Por este motivo, as concentrações de cianamida hidrogenada recomendadas para essas regiões são maiores que aquelas utilizadas em vinhedos de regiões de clima temperado. Segundo Albuquerque & Vieira (1987), no Submédio do Vale do São Francisco a utilização do produto comercial dormexÒ na cv. Itália, na concentração de 7%, promoveu um aumento de 125% na percentagem de gemas brotadas, 93% no número de cachos e 70% na produtividade, sem alterar as características químicas da uva. Este produto encontra-se disponível na forma aquosa estabilizada e contém 49% de princípio ativo. Deve ser aplicado até 48 horas após a poda, na concentração de 7% em períodos de temperaturas amenas (meses de maio a agosto - temperatura média de 25,4ºC, no Submédio do Vale do São Francisco) e 5% em períodos quentes (meses de setembro a abril - temperatura média de 27,6°C). Podem ser utilizados três sistemas para aplicação: pulverização de todos os ramos da planta, pincelamento das gemas ou imersão das varas em um recipiente cilíndrico contendo a solução. Contudo, devido a possibilidade de disseminação de doenças de uma planta para outra, o método mais recomendado é a pulverização das varas.
2. Ethephon
O ethephon é um substrato do etileno que tem sido utilizado em viticultura, com as seguintes funções: desenvolver coloração em variedades de cor, acelerar a maturação do fruto como consequência da elevação dos sólidos solúveis totais (ºBrix) e redução da acidez, induzir a abcissão de folhas e frutos, controlar o excessivo vigor vegetativo, aumentar a viabilidade das gemas, reduzir a dominância apical, estimular o enraizamento de estacas e a germinação de sementes (Szyjewicz et al, 1984).
O ethephon atua sobre os pigmentos de antocianina da película das bagas em uvas de cor, aumentando a intensidade e a uniformidade da coloração, o que é de grande importância para variedades com pigmentação fraca e desuniforme, como ocorre com as variedades Red Globe e Piratininga, principalmente, nos períodos mais quentes e em áreas sombreadas. A produção de cachos com coloração uniforme é característica da variedade e constitui um dos aspectos visuais que determina a atratividade dos frutos para comercialização. Com este objetivo, o ethephon é aplicado através de pulverizações dirigidas sobre os cachos no início da maturação ou mudança de coloração das bagas (“veraison”), sendo que a concentração ideal varia de acordo com a variedade. No Submédio do Vale do São Francisco, o ethephon, aplicado nas concentrações de 100 e 400 mg/L na cv. Red Globe, não influenciou o teor de sólidos solúveis totais, mas promoveu redução significativa na acidez titulável. Não foram observados efeitos sobre o tamanho de bagas. Entretanto, o ethephon induziu uma melhoria na coloração da uva (Souza Leão & Assis, 1999).
Resultados semelhantes foram obtidos na variedade Crimson Seedless, pela aplicação de1,2 l/ha de ethephon durante a mudança de cor das bagas (Dokoozlian et al., 1994).
Com o objetivo de quebrar a dormência e induzir a brotação das gemas, o ethephon deve ser pulverizado na concentração de 8.000 mg/L, 10 a 13 dias antes da poda. O ethephon apresentou resultados inferiores à cianamida hidrogenada com relação ao aumento de gemas brotadas (Albuquerque & Sobral, 1989; Pires et al., 1988).
Entretanto, quando o ethephon foi aplicado conjuntamente com a cianamida hidrogenada potencializou o efeito desta. Aplicações sucessivas de ethephon podem causar o aumento de fertilidade das gemas e estimular a brotação das gemas da madeira velha, evitando que os ramos produtivos se afastem do centro da planta.
3. Ácido giberélico
São muitos os efeitos do ácido giberélico em viticultura. Estes variam de acordo com a época de aplicação e as concentrações utilizadas, sendo que as variedades podem responder de forma diferenciada ao mesmo tratamento. Entre os principais efeitos do ácido giberélico estão: a) aumento do tamanho de bagas, especialmente em variedades sem sementes; b) formação de bagas partenocárpicas; c) promoção da abcissão, reduzindo o número de bagas por cacho; d) alongamento da ráquis e pedicelos, que aumentam de comprimento, propiciando a formação de cachos menos compactos; e) aumento do número de bagas verdes não desenvolvidas ou inviáveis, sendo que o aspecto das bagas de tamanho normal pode ser modificado, assumindo forma alongada; f) antecipação da maturação dos frutos.
No Submédio do Vale do São Francisco, o ácido giberélico é utilizado na variedade Itália na concentração de 3 mg/L, mediante pulverização ou imersão dos cachos antes da floração, quando estes apresentam cerca de 2 a 3 cm de comprimento e os botões florais ainda não estão individualizados para promover um alongamento da ráquis ou engaço. O ácido giberélico nas doses de 30 a 60 mg/L, também é aplicado na fase de frutificação (“chumbinho a ervilha”) antes e após a realização do raleio de bagas para promover o aumento do tamanho das mesmas. Os efeitos do ácido giberélico sobre o tamanho das bagas são mais significativos em variedades sem sementes. As variedades respondem de forma diferenciada aos tratamentos com ácido giberélico, sendo que aquelas variedades cujas bagas são muito pequenas, tais como a Crimson Seedless, Perlette, Thompson Seedless e Catalunha são mais exigentes e requerem concentrações mais elevadas que a variedade Superior Seedless (Festival). Na variedade Superior Seedless são suficientes apenas duas aplicações de ácido giberélico, sendo a primeira delas numa concentração de 1 mg/L, quando a inflorescência apresenta cerca de 2 a 3 cm (fase de “buchinha”), e a segunda aplicação na fase de “chumbinho” a “ervilha”, em concentrações de 20 a 30 mg/L.
O ácido giberélico não é translocado no interior do cacho, uma vez que apenas as partes tratadas do cacho respondem ao produto. Sendo assim, o maior aumento no tamanho de bagas é obtido quando os cachos são pulverizados ou imersos em soluções de ácido giberélico. A giberelina absorvida pelas folhas tem efeito reduzido sobre o aumento do fruto (Weaver & McCune, 1959). Além disso, a giberelina aplicada em área foliar total não é recomendada pois pode favorecer a redução da fertilidade de gemas.
PLANTIO – há dois períodos indicados. Se a muda for um enxerto de raiz nua, a melhor época é de julho a agosto. Se for muda de torrão, pode ser feito em qualquer época, desde que seja possível irrigar. Caso contrário, a época recomendada ao cultivo é de outubro a dezembro. Como a planta é trepadeira, indica-se montar um caramanchão para dar suporte ao de senvolvimento da parreira.
ADUBAÇÃO – como há orientações específicas de adubação, procure um profissional especializado. O solo deve ser areno-argiloso, fértil, bem drenado, com pH na faixa de cinco a seis, e declividade inferior a 20%.
ESPAÇAMENTO – os mais usados vão de 2 x 2 metros até 3 x 3 metros. Mas variam conforme a cultivar, porta-enxerto, sistema de condução, condições de clima e solo e manejo.
TRATOS – a videira precisa de podas de formação e de produção. A de formação é executada desde o plantio da muda até a planta ganhar o tamanho e o formato desejados. A poda serve para manter o equilíbrio entre o vigor da vegetação e a frutificação. Faça todos os anos, quando a planta estiver no período de repouso (inverno), ou quando surgirem as primeiras brotações nas pontas dos ramos.
AMBIENTE – evite cultivar as videiras em locais sujeitos a ventos fortes, ou use quebra-ventos. A planta apresenta boa adaptação em regiões com temperaturas de 15 a 30 graus. Recomendam- se locais com muita luz do período da florada até a maturação das uvas. Dependendo de clima e tempo, a videira precisa de 500 a 1,2 mil mililitros de chuva.
REPOUSO – as condições locais de plantio precisam contar com temperaturas baixas nas regiões de clima subtropical e temperado, e pouca chuva em regiões de clima tropical semiárido. São ideais para a indução do repouso hibernal das videiras, necessário para obter desenvolvimento adequado das gemas, crescimento vegetativo vigoroso e boa frutificação.
PRODUÇÃO – da poda à colheita, o plantio demora de 85 a 200 dias. O que determina o período são a intensidade luminosa e a temperatura. Indica-se a irrigação para garantir maior produtividade e qualidade.
As mudas de videiras européias (Vitis vinifera) podem ser adquiridas em viveiristas ou preparadas na propriedade pelo processo de enxertia.
Aquisição da muda pronta
É imprescindível que se adquira as mudas de viveirista credenciado e regularmente fiscalizado pela Secretaria da Agricultura, onde deve-se ter a segurança da identidade do porta-enxerto e da cultivar enxertada e da sanidade das mudas. A obtenção de mudas sem estes cuidados pode comprometer a viabilidade econômica do empreendimento, pela introdução na propriedade de focos de doenças e pragas de difícil controle. As mudas adquiridas devem ser de raiz nua e bem lavadas de forma que se possa observar a presença de pragas como a "pérola-da-terra" e outros sintomas como engrossamento, nódulos, escurecimento e necroses causados por patógenos de solo. As mudas devem ter o sistema radicular bem formado, no mínimo, com três raízes principais e comprimento acima de 20 cm, com o calo do enxerto formado em toda circunferência da enxertia, sem fendas ou engrossamento excessivo. Além disso, deve-se ter a segurança de que as mudas se originaram de material propagativo certificado ou fiscalizado, sem a presença de viroses e outras doenças não possíveis de constatar-se no momento da aquisição das mudas.
Formação da muda na propriedade
Mudas de Vitis vinifera (uvas européias), obrigatoriamente devem ser formadas por enxertia, pois estas cultivares são muito suscetíveis ao ataque da filoxera, pulgão que ataca o sistema radicular da videira. A utilização de porta-enxertos, além do controle da filoxera, tem a vantagem de propiciar maior produtividade e qualidade da uva, maior tolerância a doenças de solo e melhor adaptação aos diferentes tipos de solo.
Material de propagação
O material de propagação para o preparo das mudas (estaca do porta-enxerto e gema da produtora) deve ser obtido em órgãos oficiais ou viveiristas credenciados. Outra opção e, neste caso, somente para material da produtora, é a obtenção do material em vinhedos comerciais que tenham sido formados com mudas de procedência conhecida onde deve-se proceder a seleção das plantas para a retirada do material.
No caso do produtor optar em fazer a seleção das plantas de cultivares produtoras para a retirada de garfos (gemas) para enxertia, ele deve escolher vinhedos adultos, com idade mínima de quatro anos, de preferência acima de 8 anos e que tenha sido formado com material de boa procedência em relação a sanidade e identidade varietal. Na seleção deve-se marcar as plantas com bom vigor, produtivas e boa maturação da uva e, sem qualquer tipo de sintoma que possa ser causado por doenças ou pragas. A observação das plantas deve ser feita em diversas épocas do ano, visto que os sintomas da maioria das doenças se expressam melhor em determinados estádios do ciclo vegetativo. As épocas mais aconselhadas para observar as plantas são: a) na primavera, quando os ramos alcançam em torno do 50 cm, verificar se as folhas apresentam sintomas de deformações, amarelamentos e manchas cloróticas de contorno variado e nos ramos se há anomalias como bifurcações, entrenós curtos, achatamentos e nós duplos; b) na fase de maturação da uva, antes da colheita, verificar se as plantas apresentam cachos com falhas ou mal formados, maturação irregular (presença no mesmo cacho de uvas maduras e verdes), e também, se àquelas plantas que embora tenham boa produção apresentam maturação atrasada ou incompleta; c) no fim do ciclo vegetativo, antes da queda das folhas, observar se as folhas apresentam enrolamento com aspecto rugoso e coreáceo, avermelhamento nas cultivares de uva preta ou rosa e amarelamento pálido nas cultivares de uva branca; d) no período de dormência, época que a planta está sem as folhas, antes da poda, verificar nos ramos se há presença de achatamento, nós duplos (gemas opostas), bifurcações, entrenós curtos, engrossamento nos entrenós, amadurecimento irregular da casca e morte de ramos.
No caso de porta-enxertos é difícil selecionar plantas sadias na propriedade, pois mesmo infectadas, as plantas não mostram sintomas de muitas doenças importantes. Dessa forma recomenda-se obter as estacas ou matrizes de porta-enxerto de fonte segura que tenham material certificado ou fiscalizado. Não utilizar para propagação, estacas retiradas de rebrotes do porta-enxerto que, eventualmente, ocorrem de plantas enxertadas em vinhedos comerciais em plena produção.
Coleta e conservação do material propagativo
A coleta do material propagativo do porta-enxerto (estacas) e da produtora (gemas), deve ser feita no inverno, quando a planta está em dormência (sem folhas) e com os ramos bem lignificados (amadurecidos). Somente devem ser aproveitados os ramos que vegetaram na última estação (ramo do ano) e que nasceram de ramos do ano anterior, ou seja, ramos de dois anos. Recomenda-se que a coleta do material seja feita o mais próximo possível da época da sua utilização (plantio ou da enxertia).
Quando for necessária a conservação do material, antes do plantio ou da enxertia, deve ser feito, de preferência, em câmara fria. Caso a câmara fria não dispor de controle de umidade, os feixes devem ser cobertos com papel jornal úmido e envolvidos em plástico bem vedado, para evitar que o material propagativo se desidrate. Não dispondo de câmara fria, conservar em local fresco (porão) sob areia ou serragem úmida. Quando for estacas (40-45 cm) a conservação pode ser feita em feixes, em pé, com a base das estacas enterrada (10-20 cm) em areia com bastante umidade e em local bem sombreado e fresco, onde pode permanecer por até duas ou três semanas. Estes cuidados são importantes, pois se os ramos da videira perderem água equivalente a 20% do seu peso, podem se tornar inviáveis para o plantio ou enxertia. O ideal é que todo o material, antes de ser conservado (armazenado), seja hidratado por 24 horas (imersão ou com a base na água). Quando as estacas de porta-enxertos destinadas ao plantio forem retiradas da câmara fria ou de outro local de conservação, devem serem colocadas na água por dois ou três dias, antes do plantio. No caso de material de produtoras destinado a fornecer gemas para enxertia é suficiente uma hidratação de 24 horas antes da enxertia.
Preparo das estacas
As estacas para plantio do porta-enxerto, devem ter o comprimento, em torno, de 45 cm, correspondendo, aproximadamente a 4-6 gemas e com um diâmetro de 7-12 mm. O corte na extremidade inferior da estaca (base) deve ser horizontal, logo abaixo de uma gema (0,5 cm). Na extremidade superior, o corte deve ser inclinado (bisel) de 3 a 5 cm acima da gema.
Formação da muda
Mudas de cultivares viníferas devem ser obtidas através do processo de enxertia, preparadas diretamente no local de implantação do vinhedo ou em viveiro para posterior transplante. O preparo da muda em viveiro possibilita, numa pequena área, fazer grande número de mudas, além de facilitar os tratamentos fitossanitários, adubação, irrigação, cobertura plástica do solo etc. Além disso as mudas podem ser selecionadas antes de ir para o local definitivo, facilitando a padronização das plantas no vinhedo. Em contrapartida, a muda feita no local definitivo tem como vantagem o maior desenvolvimento inicial da planta, especialmente, nos primeiros dois anos, visto que, a muda não sofre o traumatismo do processo de transplante.
Escolha da área e preparo do solo para viveiro
O viveiro deve estar distanciado pelo menos 50 m de vinhedos comerciais. Escolher um solo com predominância para o tipo arenoso, profundo e bem drenado, de preferência que não tenha sido cultivado com videiras nos últimos anos. Deve estar livre de fungos, bactérias e nematoides que afetam a videira e sobrevivem no solo e, principalmente, da praga "pérola da terra", que ataca as raízes da videira e de inúmeras outras plantas cultivadas. Retirar amostras para analise do solo, com bastante antecedência e fazer a correção do pH e de adubação, conforme a recomendação. O solo tem que ficar bem preparado (solto), de modo a facilitar o aprofundamento das raízes e o desenvolvimento da muda.
Plantio das estacas
O plantio das estacas deve ser feito no período de julho/agosto. Quando a muda é preparada em viveiro o plantio das estacas do porta-enxerto pode ser feito em valas com profundidade de 30 cm a 40 cm e largura de 30cm. As estacas são enterradas à profundidade de 2/3 do seu comprimento e espaçadas de 5 cm a 10cm. Pode-se colocar na vala duas fileiras de estacas distanciadas 20 cm a 30 cm uma da outra e, entre as valas, deixar uma distância de 1 m. Outra alternativa é preparar canteiros com 15-20 cm de altura e com 60 cm de largura e distante 50 cm um do outro, cobrindo-os com plástico preto. O plantio deve ser feito em duas fileiras para facilitar a operação de enxertia pelos dois lados do canteiro. O plantio pode ser feito furando o plástico com a própria estaca ou, o que é mais aconselhável, perfurar o plástico antes de colocar a estaca. Deve-se ter o cuidado de manter o solo com umidade suficiente para o plantio antes de cobrir o canteiro com plástico. Após o plantio das estacas é importante irrigar em cima do plástico fazendo a água penetrar pelos furos de modo a compactar o solo junto a estaca.
Em caso de estiagem o viveiro deve ser irrigado periodicamente.
Quando a muda é preparada no local definitivo, o plantio também é feito no período de julho/agosto. Normalmente o porta-enxerto é plantado em covas, sempre colocando-se duas estacas em cada cova e enterrando 2/3 do seu comprimento. Outra alternativa é plantar estaca já enraizada (barbado) e, neste caso, vai um barbado por cova. No caso do plantio de estacas e as duas enraizaram, elimina-se a mais fraca ou transplanta-se para as covas onde não ocorreu pegamento. Uma boa medida para repor as falhas, é plantar uma quantidade de estacas em sacos plásticos e transplantá-las para as covas que não houve pegamento, ainda no mesmo ano, durante o mês de outubro.
Enxertia de garfagem no campo
No Brasil, esta é a prática mais utilizada e a quase totalidade das mudas são preparadas no local definitivo. Como já foi mencionado, a enxertia é feita um ano após o plantio das estacas do porta-enxerto (enxertia de inverno). Em regiões sujeitas à ocorrência de geadas tardias, a enxertia deve ser feita na última quinzena de agosto. O tipo de enxertia feita no campo é a garfagem simples, executada do seguinte modo: inicialmente, faz-se uma limpeza em torno do porta-enxerto para facilitar a operação de enxertia. A seguir elimina-se a copa a uma altura de 10 cm a 15 cm acima do solo, ficando, assim, um pequeno caule ou cepa. Após, com o canivete de enxertia, é feita uma fenda de 2 cm a 4 cm, na qual será introduzido o garfo da videira que se deseja enxertar. Para o preparo do garfo (enxerto), toma-se uma parte do ramo (bacelo) com duas gemas, de preferência com diâmetro igual ao do porta-enxerto. Com canivete bem afiado são realizados cortes rápidos e firmes em ambos os lados, de maneira que o garfo fique em forma de cunha, com largura maior para o lado que fica a gema basal (Figura 1). O comprimento da cunha deverá ser semelhante ao da profundidade da fenda feita no porta-enxerto.
Fig. 1. Preparo do garfo, com a largura maior para o lado da gema. (Foto: G. Kuhn)
É importante que o garfo, assim preparado, seja imediatamente encaixado na fenda do porta-enxerto, de tal maneira que as regiões da casca do porta-enxerto e do garfo (enxerto) fiquem em contato direto. Quando o diâmetro do porta-enxerto e do garfo for diferente, é fundamental que, no lado em que se situa a gema basal do garfo, ocorra o contato direto da casca das duas partes - enxerto/porta-enxerto (Figura 2). A seguir, enrola-se firmemente toda a região da enxertia com fita plástica, com cuidado para não deslocar o enxerto. Além da fita plástica pode ser usado ráfia ou vime, embora a fita plástica seja mais indicada por vedar bem os cortes da enxertia, evitando a entrada de água e terra (Figura 3). Quando a muda é preparada no local definitivo, crava-se uma estaca ou taquara (tutor) junto ao enxerto, de modo a conduzi-lo até o arame do sistema de sustentação (latada, espaldeira, etc.).
Fig. 2. União da enxertia, mostrando o contato da casta da copa com o porta-enxerto.
(Foto: G. Barros )
Fig. 3. Amarrio do enxerto com fita plástica. (Foto: G. Barros)
Para favorecer a soldadura, logo após a enxertia, deve-se cobrir totalmente o enxerto com terra solta, areia ou serragem úmida, não em excesso, para não causar a compactação quando secar (Figura 4).
Fig. 4. Cobertura do enxerto com terra.
(Foto: G. Kuhn)
Após a pega da enxertia, deve-se acompanhar o desenvolvimento da muda mantendo os brotos do enxerto e eliminando-se os brotos que se originam do porta-enxerto, tomando-se o cuidado para não deixar a região do calo do enxerto sem a proteção da terra.
Quando o enxerto estiver com uma brotação de, aproximadamente, 50 cm, deve ser observado se houve afrancamento, ou seja, se ocorreu emissão de raízes a partir do garfo (enxerto). Em caso positivo, as raízes devem ser cortadas com tesoura ou canivete. Nesta época, também deve ser observado se está havendo estrangulamento na região da enxertia, cortando a fita plástica se necessário. Realizadas estas operações, novamente, protege-se a região da enxertia até que se inicie o amadurecimento do ramo. A partir deste estádio pode-se eliminar a proteção do enxerto e soltar a fita plástica.
Deve-se fazer o controle da formiga cortadeira e realizar os tratamentos fitossanitários, especialmente, do início da brotação em setembro até dezembro, quando doenças como antracnose e míldio ocorrem com maior freqüência. As operações de manejo do enxerto, tais como eliminação da brotação do porta-enxerto, desafrancamento e eliminação da proteção que cobre o enxerto, devem ser efetuadas, preferencialmente, em dias nublados.
Ocorrendo a brotação das duas gemas do enxerto e quando estas alcançarem em torno de 1 m, elimina-se o broto mais fraco, amarrando o outro, freqüentemente, junto ao tutor, para evitar a sua quebra pelo vento.
Quando a enxertia é feita em viveiro, onde a distância entre as mudas é em torno de 10 cm, não há necessidade de tutora-las e sim fazer o desponte dos ramos, sempre que atingirem em torno de 60 cm, de modo a engrossar o ramo principal e facilitar os tratamentos fitossanitários. As demais operações são as mesmas já mencionadas quando se forma a muda no local definitivo. As mudas permanecem no viveiro até o inverno seguinte, quando serão arrancadas e replantadas no local onde vai ser implantado o vinhedo.
Enxertia verde
Esta modalidade de enxertia é efetuada durante o período vegetativo da videira sendo recomendada para a reposição de falhas da enxertia de inverno. Pode também ser empregada na renovação do vinhedo. A enxertia é feita por garfagem simples, nos meses de novembro e dezembro. Se feita mais tarde poderá ocorrer problema na maturação (lignificação) das brotações, principalmente, em localidades onde o outono é bastante frio.
Consiste dos seguintes procedimentos: selecionar dois brotos do porta-enxerto conduzindo-os junto ao tutor e eliminando as demais brotações. Quando os ramos do porta-enxerto atingirem em torno de 5 mm de diâmetro e estiverem com boa consistência, verdes mas rígido, já poderão ser enxertados. A altura da enxertia é variável, dependendo do desenvolvimento do ramo, o qual deverá ser despontado a partir do quarto ou quinto entrenó, contados da extremidade para a base (Figura 5).
Fig. 5. Enxertia verde - desponte do porta-enxerto. (Foto: G. Kuhn)
Todas as gemas do porta-enxerto devem ser eliminadas, deixando as folhas. O garfo da produtora com uma ou duas gemas (Figura 6) deve ter o mesmo diâmetro do ramo do porta-enxerto para facilitar a enxertia e a soldadura do enxerto.
Fig. 6. Enxertia verde - diâmetro do garfo e do porta-enxerto devem ser semelhantes. (Foto: G. Barros)
A elaboração dos cortes é igual ao da enxertia de inverno já descrita. O enxerto deve ser amarrado com plástico fino (Figura 7) vedando totalmente a superfície, desde a região da enxertia até o ápice, ficando a descoberto apenas a(s) gema(s) do garfo (Figura 8). Após a enxertia, deve ser feito duas vistorias semanais eliminando-se os brotos que se originam do porta-enxerto. A brotação do enxerto deve ser amarrada freqüentemente para não quebrar com o vento. Também devem ser realizados os tratamentos fitossanitários, especialmente para o controle da antracnose e do míldio. Cerca de dois meses após a enxertia, afrouxar o amarrio para evitar o estrangulamento, permanecendo o enxerto coberto com plástico. A retirada definitiva do plástico deve ocorrer, em torno, de somente 90 dias após a enxertia. Efetuar estas práticas, de preferência, em dias nublados ou em fim de tarde.
Fig. 7. Enxertia verde - amarrio com fita plástica fina. (Foto: G. Barros)
Fig. 8. Enxertia verde - cobertura de toda região enxertada, deixando gema de fora. (Foto: G. Barros)
O professor-adjunto da Unioeste, Rafael Pio, explica que a uva é uma frutífera de clima temperado e, por isso, requer certa quantidade de frio durante o inverno para as gemas brotarem e proporcionar boas produções. Primeiramente, deve-se conhecer o clima do local, observando as temperaturas mínimas durante o inverno e as médias durante o verão, pois as uvas de mesa são bem sensíveis ao ataque de doenças foliares causadas por fungos no verão. As mudas podem ser adquiridas no Centro Apta Frutas do IAC-Apta, tel. (0--11) 4582-7284 ou e-mail: frutas@iac.sp.gov.br. Contato com o pesquisador, e-mail: rafaelpio@hotmail.com.